sexta-feira, 18 de março de 2011

Maspoxavida



 Somos heróis. Todo mundo precisa de heróis. Nos consideramos heróis. Nosso heroísmo passa de geração para geração. Nossos problemas, nossas conquistas. Ressureição, dar a volta por cima, vencer o inimigo. Essas coisas.
 Ninguém é vilão, pelo menos ninguém quer ser. Nós não nos assumimos como pessoas ruins. Há sempre um porém, um motivo. Um “não foi minha culpa” ou um “mas se não fosse por este motivo, tudo estaria bem”.
 Pense em você como um vilão. Pense um pouco mais. E se no final das contas, fôssemos exatamente tudo aquilo que negamos ser? E se formos filhos da puta? Traidores, oportunistas, interesseiros, invejosos, raivosos, depravados, infelizes, preconceituosos. Se não fôssemos filhos de Deus? Ninguém olhando por nós. Olho por olho e dente por dente. E se os hipócritas não forem realmente hipócritas? A gente sempre erra. Podemos errar a respeito disso. A respeito de nós mesmos.
Imagine você, um maldito confesso. Sem remorso. Apenas sendo quem você é. Um maldito.
 É tão ruim assim? Afinal de contas, todo mundo parece tão vazio e distante. Menos nós. Nós somos os mártires, o estandarte da nobreza do espírito. E se nós fôssemos os hipócritas? Quanto tempo isso duraria? E se nós fôssemos desistentes, deprimidos, frustrados, sempre querendo algo que não temos e não precisamos? Se nós amamos pouco, se descartamos os outros...
 Quem seriam os heróis? Pra onde foi todo mundo?
 E se a vida não tivesse sentido algum? Apenas existência pura, simples e ao acaso? Ou se o amor não fosse amor e sim reações químicas que seu cérebro faz, somente pra você espalhar seus genes tão pateticamente como fazem as flores com o pólen? E se o tempo passasse tão rápido que você não vê os dias chegarem e nós morremos, em breve e sem nenhuma vida após isso? Nenhum presente, nenhum céu. Preto. Puf.
 Você se pergunta.
 O que sobraria? Com ou sem sentido, as coisas continuam. Não depende de ninguém. Um dia você acorda, no outro dia não. Um dia você tem vontade, no outro dia não. Um dia você tenta, no outro desiste. Um dia você desiste, no outro você ganha um novo herói. Um dia você tem vontade, no outro você não acorda. Nunca se sabe. Preto. Puf. Quando todo mundo está ficando louco, menos você, quem é o louco? Quem você escolhe ser, o herói ou o vilão?
 Você se pergunta.
 Tem dias que não parecem dias. São dias que vem como trégua. Você senta e não faz nada. E nada.  Num dia você sente vontade, no outro dia você quer. Tem dias que não dão trégua. Tem outros que te fazem bem. Mesmo se você for o vilão.

 PC Siqueira




(Bem eu sei que prometi postar algo meu, mas esse post do PC fala mais do que eu consigo escrever ainda, e queria compartilhar com vocês. O texto foi retirado da ediçao nº4 da revista Manuscrita (http://issuu.com/manuscrita/docs/manuscrita4) e tem muitas outras materias bastante interessantes, confiram la)

Comentem se discordam ou concordam !
^^

domingo, 13 de março de 2011

Explicação

 Então, esses dois ultimos posts foram feitos pela Mari, mas , o blog não é seu Douglas?
 Pois bem, como a Mari esta com esse projeto de exercitar suas capacidades de escrita e eu estou a um tempo sem postar, vai ficar assim, eu a ajudo dando a ela um motivo pra escrever, e ela me ajuda dando conteudo pra ser lido aqui !
 Mas obviamente não vou parar de escrever tambem, prometo que até semana que vem tem algum post meu !
 (Então ficam assim as explicações, msm que ngm se importe msm)

 obs: por favor comentem nos posts, pra gente saber se vcs gostarão, se não gostarão, pq não gostaram e tudo mais. obrigado ^^

Abraço pros manos, bjo pras minas !
rs

Rua aporé, número 267.

Rua aporé... número 267...

Um endereço. Duas casas. Uma ao lado da outra.

Quando eu era menina, passava todos os dias por essas casas. Sombrias, destruídas, cada uma com uma árvore seca, sem folhas, galhos finos e escuros, abrigo de morcegos ao cair da noite.

Quando eu era menina, passava por elas e olhava, como quem quisesse (e pudesse) fazer um raio x do que existe lá. Como eu gostaria de ver, ao menos uma vez, alguém entrando lá! Um ser humano, vivo! Dentro da minha cabeça, apenas vultos, fantasmas, vampiros e mistérios olhavam pela janela e me encaravam, me chamando pra entrar, pra bater a campainha...

Um certo dia, com meus nove anos de idade, me mandaram comprar uma vassoura. “Longa e forte, por favor! Não vá trazer produto vagabundo!”, e lá fui eu comprar a vassoura que deveria sustentar o peso de um elefante sem se quebrar. O supermercado era na frente desse calabouço sombrio, e, armada de alguma coragem (uma vassoura para me defender, um mascote imaginário, um escudo e uma nota de dinheiro que poderia virar um adesivo explosivo), bati na campainha dessa casa. Meu coração palpitava, saía pela boca, as minhas mãos molhadas, excitadamente esperavam uma oportunidade para enfrentar o desafio da minha vida. Quem saber alguém, uma bruxa, apareceria no portão e me raptaria? Quem sabe aquela era a hora de viver uma vida de aventuras, aquelas das quais eu sempre via nos jogos de RPG e nos animes?
A espera, de dois minutos, tornava-se pouco a pouco, horas que se arrastavam a fio...

Infelizmente, não houve nada. Não houve ninguém. Nenhum barulho, por mais que meu coração e minhas preces pedissem, nada, nadinha. Fiquei completamente decepcionada. Era bem pior do que rezar para a Virgem Maria para que ela me transformasse em Sakura Card Captors (dizia minha vó que, tudo que a gente pedisse com o coração pra Virgem Maria a gente conseguia, então eu nunca deixava de tentar...). Desapontada e triste, voltei para casa. Andando pela calçada cheia de grama e gravetos quebrados, pensava comigo “ser criança é uma merda... se eu fosse adulta nunca passaria por esse tipo de coisa”... Uma lágrima intrometida escorreu no canto do olho. Engoli o choro, cheguei em casa, e contei para minha irmã o acontecido.

“hahahaha, você achava MESMO que existia alma penada naquela casa? Vampiro? Lobisomem? O máximo que pode ter é alguns ratos e baratas, móveis abandonados, ou sei lá...cresce um pouco... você já tem nove anos”...

E aquele assunto morreu. As casas continuaram ali, por anos, sem que ninguém entrasse, sem que eu a encarasse, sem que ela participasse das minhas fantasias de criança, até que uma coisa aconteceu.

O episódio foi o mesmo. Comprar uma vassoura que não fosse vagabunda e que sustentasse o peso de um elefante sem se quebrar. Mas eu já tenho dezesseis anos. Então, pra mim, nem fazia sentido encarar aquela casa de novo achando que tem um monte de coisa que meu ceticismo em construção negava a existência. Andando do outro lado da calçada, olhei, furtivamente (como se uma criança dentro de mim ainda me desafiasse a acreditar) para aquela casa que tanto foi protagonista de lutas imaginárias no meu quintal. E a surpresa!! Alguém estava lá. Eu podia ver. Vestido branco, cabelos médios, era uma mulher. Instintivamente imaginei ser uma bruxa do bem. Censurei-me, na mesma hora, continuando meu caminho. Cheguei ao supermercado, escolhi a vassoura sem muito pensar, comprei, e no caixa, só imaginava a cena de ter visto alguém, pela primeira vez na vida, naquela casa mal assombrada...

Na saída, encontrei com aquela mulher me esperando na frente do supermercado. Conversou comigo, como se fôssemos melhores amigas. Atravessei a rua, deixei-a no endereço já tanto citado, e ela se despediu. Sumiu. Na minha frente.

Me assustei, minha barriga revirou. Talvez eu tenha ficado branca da cor do vestido dela. Meus lábios roxos e secos, minha visão embaçada e sem foco, contudo, conseguiram notar um pequeno bilhete no chão, escrito com letra bonita, cheirando melissa.

“Você está ficando adulta. Não perca sua alma de sonhadora. Não deixe de ser criança. Nem deixe de acreditar”

Olhei afoita para dentro da casa. Uma figura conhecida andando pelo quintal, piscou serelepe pra mim. Guardei o bilhete no meu bolso. E esse foi meu melhor presente.

domingo, 6 de março de 2011

Nas Batidas




 Era apenas mais uma festa normal, de amigos conhecidos e aquela coisa toda. Me arrumei preguiçosamente, um perfume, uma roupa bacana... não esperava literalmente nada. Beber um pouco, talvez? Tirar umas fotos, beijar as garotas peitudas, zoar com os meus amigos... era mais uma festa, iguais às das semanas anteriores, iguais às que eu sempre fui, normais...

 A música alta ensurdecia, me movia praticamente por impulso. O copo de batida na minha mão estava quente, a nuvem de fumaça e as cores que nela refletiam pra mim nada significava. Encostado na parede, movendo-me um pouco pra cá, um pouco pra lá, meu olhar morto se fixava no DJ do outro lado da sala, um cara barbudo, mais ou menos como eu, curtindo a música, e todos dançavam... aí eu vi ela.

 Ela? Ah... eu nem posso descrever como ela era linda, seu cabelo castanho e seu jeito tímido denunciava a falta de vontade de estar ali, mas mesmo assim, a ingenuidade e delicadeza de seus gestos era como o sol que batia de manhã na minha janela, fresco, luminoso, que me mostrava que mais um lindo dia começava... Ah... ela! Seu vestido azul suave com botões dourados se movia com graciosidade, uma graciosidade que eu nunca havia visto antes.

 Os amigos dela ficavam em volta, conversando, e por um momento ela riu... eu não pude ouvir a voz desse canto maravilhoso, mas senti que era como um coro de anjos, uma coisa que inundava meu peito, tantas emoções apenas por vê-la!

 Como um ímã, seu olhar se voltou para mim, e ela me deu um lindo sorriso. Era tudo o que eu precisava, para chegar, conversar, oferecer aquele copo de batida quente que suas mãos delicadas receberam como se fosse um presente...

 A música continuava, a batida fazia o chão tremer, e eu não conseguia ouvir sua voz direito. Ela se esforçava pra falar, eu apenas lia seus lábios, não sei se por prazer de vê-los se mexendo, ou pra realmente entender suas palavras, até que ela me puxou para a varanda. Chegando lá, afoita, falou: “qual é seu nome?! Hahaha, parece até que não me escuta, mas também com essa música alta né?”... A conversa seguiu, aconteceram risadas, sentamos em uma mesinha, continuou-se a conversar, o clima veio, o beijo veio, meu peito se encheu de alegria, e seu telefone escrito num guardanapo amassado foi guardado cuidadosamente em um lugar que eu nunca poderia perder...

Eu poderia agradecer ao meu amigo que fez a festa e a convidou, mas... não sei se minha mágoa deixaria. As semanas seguintes foram maravilhosas, cada dia que eu a conhecia, mais eu a desejava, seu modo de pensar das coisas, seus gostos, seu sorriso, seu cabelo, seu cheiro que ficava preso nas minhas camisas, os filmes que nós vimos juntos, nosso passeio de carro, e ela sempre presente em meus sonhos, meus desejos... Deus me mostrava assim, o que era alegria, para, 3 meses depois, arranca-la de mim...

 Não sei exatamente o que aconteceu, ela foi ficando estranha. Dizia estar balançada, havia outra pessoa que ela gostava, e nisso tudo eu me sentia preso, amarrado, sem saber como poderia agir. Tentava apóia-la, dizer que ficaria tudo bem, por dentro, eu gritava “por favor, não me abandone!”... O tempo passava, e passava, o tic-tac interminável do relógio do meu quarto me alertava que logo acabaria, e eu, cego, preferia não acreditar...

 Manhã de sexta feira, recebi uma mensagem. Longa, longa demais pra que os meus olhos pudessem ler sem ficar encharcados de água... ela, ali, alegava que me deixaria. Deixava subentendido, claro, ela não sabia dizer não. Se desculpava, dizer que chorou ela disse, dizer que sofreu ela também disse, mas naquele momento, eu acreditava apenas que essas palavras eram um consolo pra ela tentar igualar o sentimento de perda que eu tive, quando a perdi...

 E ficou assim. Eu nunca, nunca pensei em abandona-la, aliás, eu ainda penso que ela pode se arrepender de continuar com um cara que não a merece, e voltar, correndo, pros meus braços, me chamar pra varanda, com um copo de batida quente nas mãos, e dizer seu telefone, e sorrir pra mim, me mostrando que o sol ainda existe... 


(Mais um post feito por uma amiga, a Mari, espero q tenham gostado do conto, mais estão por vir !)